Makinarium (Novo roteiro. A Vicare venceu o bloqueio!? rsrsrs)

Eu só queria chegar à minha casa e comer aquela torta de pêssegos feita pela minha mãe, eu mal sabia que isso não ia acontecer, nunca mais.

Nossos passos ecoavam pelo estacionamento abandonado enquanto pisávamos com força na tentativa de sermos mais rápidos que aquelas criaturas. Consegui ter uma visão borrada dos cabelos de Anna antes de sentir uma forte dor em minha perna como eletricidade pura queimando cada célula de meu corpo, eu fui jogado ao chão quase instantaneamente. Aquela criatura com o corpo coberto por um pelo negro e opaco lembrava um cão, ao menos a forma com que ele mordia meu calcanhar e balançava a cabeça me lembrava de quando um desses animais capturava um brinquedo lançado pelo dono.

O cheiro de metal enferrujado foi a primeira coisa que senti depois de ter desmaiado durante o ataque daquela fera de olhos safira, eu não conseguia sentir nada em meu corpo, apenas meus lábios, eles estavam extremamente dormentes, mas isso já servia como prova de que eu ainda existia.

-Meu querido! Você acordou antes do que eu tinha planejado! Aquela voz feminina era irritantemente conhecida. -Realmente sinto por colocar-lhe nessa situação.

Aos poucos comecei a recobrar meus sentidos, meus olhos pesavam como se tivessem sido colados e senti algo escorrendo deles, mas não eram lágrimas. Meu peito doía muito e eu sentia um movimento continuo como o velho tremor no chão que acompanhava o trem perto da figueira que eu brincava quando criança.

-Vamos ver essa ficha... Yuri Mohain, 17 anos, estudante e ajudante do pai na sapataria. Yuri você Lembra-se de mim?

Não, eu não conseguia lembrar. Aquela mulher com uns 32 anos e cabelos negros olhava para mim enquanto eu estava deitado em algo feito de metal com mãos e pernas presas.

O barulho que saiu de minha boca sequer parecia humano, eu ainda estava sobre o efeito de alguma droga, mas ela conseguiu entender que eu dizia não. Uma leve levantada nos óculos e uma anotação na planilha e novamente eu havia caído em um sono profundo.

Dessa vez eu estava sozinho naquela sala escura com cheiro de desinfetante, meu corpo ainda estava preso, mas eu precisava sair daquele lugar. O primeiro solavanco que dei com meu braço folgou um pouco a alça de metal que abraçava meu punho, algo estava sobre meu peito, eu tinha que tirar aquilo. Mais uma vez puxei meu pulso, logo ia começar a sangrar, mais uma vez e senti o metal entrando em minha pele, mais uma vez, meu braço estava livre.

Com o braço livre consegui soltar a fina tira de couro que passava por minha testa empurrando nuca contra o ferro gelado, levantei minha cabeça e consegui ver um relógio estava grudado em meu peito, tentei arranca-lo com os dedos, mas não conseguia nem movê-lo, soltei o outro braço e o resto do corpo, meu bronzeado havia sumido, meu corpo estava pálido, quanto tempo eu havia passado naquele lugar?

Pisei no chão e meus joelhos tremeram, quase não suportavam meu peso, aquele relógio continuava a contagem, mas algo estava estranho, o ponteiro estava correndo ao contrário, o relógio marcava 22:23, não demoraria para chegar as 22:00. Eu precisava de algo para tirar aquilo de mim, até uma faca serviria, meus olhos correram pela sala e vi uma mesinha com equipamentos cirúrgicos, se só estivesse ligado à pele eu poderia corta-lo com cuidado.

Ao me aproximar da mesa vi alguns bisturis, mas meu interesse guiou meus olhos para o espelho deixado ao lado dos materiais, quem era aquele estranho que olhava para mim? O que era aquilo em seu peito? Neste relato contarei a história desse homem que a partir daquele dia também seria minha história.

Fim do primeiro dia.