Dois quiques (one-shot)

 
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Uma pedra quica duas vezes na superfície de um lago esverdeado antes de mergulhar na água lodosa.
 - Incrível! Você faz isso como, Jonah? – pergunta a garota de nome Marie, com uma expressão e postura de surpresa, olhando ainda para a água tremulante.
 - Ah, isso levou anos de prática. Mais de 30! – respondeu Jonah, com uma postura pretenciosa.
 - Mas você disse que tinha só 9 anos – retrucou Marie, com uma expressão insatisfeita com a resposta de Jonah.
As duas crianças estavam em torno do lago já citado. O lago tinha algumas algas e vitórias-régias.
 
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 - Ah, não seja tão chata, Marie – diz ele já pegando outra pedra.
Ela então observa.
 - É força. Você precisa de força. – diz ele lançando a pedra para o alto.
Jonah pega a pedra enquanto ela deslizava em direção ao chão e a lança no lago, fazendo assim quicar duas vezes sobre a superfície da água.
 - Então, sendo uma menina frágil e indefesa, você é incapaz de tal proeza. –
Marie faz uma cara muito irritada.
 
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Ela se levanta. Jonah fica a observando curioso. A mocinha pega uma pedra na beira do lago [corte Jonah], se afasta um pouco, se prepara, corre e lança a pedra. Aquele objeto de poucas medidas corta o ar e mergulha diretamente até o fundo do lago, sem mostrar nenhuma resistência em manter-se na superfície. Imediatamente seus olhos enchem-se de lágrimas.
 
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Jonah corre de imediato para consola-la [corte Marie].
 - Não, Marie... Olhe, não chore... – Jonah pega uma pedra – É muito fácil, não precisa de força, não. É jeito. – ele fica mostrando a pedra para ela. - Só tem que escolher a pedra certa e jogá-la da forma certa e...
Jonah lança a pedra e ela quica novamente duas vezes.
Marie olha, interrompe o choro. Levanta-se, pega uma pedra e lança.
 
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A pedra faz sua viagem costumeira e mergulha sem hesito.
Marie despenca a chorar novamente. Jonah se desespera e tenta a animar.
 - Não... Marie... Não, não chora.
 - Eu sou uma inútil que não consegue fazer a pedra quicar! – ela berra.
 - Não... Marie... Olhe... Às vezes eu também erro... Olhe.
Jonah pega uma pedra sem prestar atenção e a lança de qualquer jeito.
Os dois olham em silêncio a pedra quicar duas vezes sobre a água.
 Marie berra de choro.
 - Eu sou uma inútil!
 - Droga. Por que eu sou tão bom? – comenta consigo mesmo, Jonah.
 
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 - Olhe, Marie, se você parar de chorar, eu te ensino como fazer isso!
Marie para imediatamente de chorar e, já com brilho nos olhos, agarra os ombros de Jonah.
 - Sério? Você faria isso por mim?
 - Se recuperou rápido demais, hein.
Ele caminha sobre o chão de pedras em beira ao lago e para em certo local, abaixando-se.
 - Venha! – grita Jonah, para chama-la.
Marie corre até o local e se abaixa junto a ele.
 - Preste bem atenção. Você precisa selecionar esse tipo de pedra – ele pega uma pedra achatada – As pedras achatadas são mais fáceis de fazer deslizarem pela água.
 
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Jonah se levanta e anda até certa distância do lago. [corte Marie]
 - Você deve segurar a pedra na horizontal e movimentar o braço rapidamente, na mesma posição. Não se esqueça de flexionar um pouco os joelhos. – Jonah lança a pedra em direção ao lago.
 - Ah, e use toda a sua força também. – ele diz pondo uma mão na cintura e a outra, apontando para o alto, como se estivesse a passar uma lição muito importante.
A pedra quica duas vezes sobre a água, como de esperado.
 
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 - Huoo!! Incrível!! – diz Marie pulando empolgada. – Vai, agora é minha vez de tentar!
Marie corre até o local onde Jonah pegou a pedra e escolhe uma. [corte Jonah]
 - Esta aqui é boa, né? – ela mostra a ele.
A menina corre até se distanciar corretamente do lago.
 - Posicionar a pedra: confere; joelhos: confere; posicionar braço: confere... – a menina faz tudo isto, seguindo a ordem. – Agora vai!
Marie lança a pedra como toda a sua força.
 
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A pedra vai e vai e mergulha.
Marie olha para Jonah muito irritada.
 - Tente outra vez... Ou você achou que iria conseguir de primeira? – diz ele meio sem graça.
- Hum... Tudo bem.
Ela pega novamente a pedra e tenta, mas sem êxito. Isso a causa mais raiva.
 
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Várias tentativas falidas de fazer a pedra quicar sobre a água e, a cada tentativa, menos animados eles dois ficam.
 
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Marie joga a pedra com a última e pouca força que a sobrava. A pedra faz o de sempre, mergulha até a profundeza do lago.
 - É... Pois é... – dizem os dois com os olhos ao chão.
 - Eu não tenho jeito mesmo. – finaliza Marie, sentando-se sobre uma pedra, desanimada.
Jonah a olha com compaixão e tem uma ideia. Ele corre até uma parte do lago. Marie o olha fazendo tudo, muita curiosa.
Algum tempo se passa.
 
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Jonah volta todo molhado.
 - Tente... Lançar...  A pedra novamente.
 - O que você fez?
 - Nada. Lance-a logo.
Marie dá de ombros. Pega uma nova pedra e a lança, como havia aprendido. A pedra viaja pelo ar e inusitadamente quica duas vezes sobre a água. Ela se surpreende.
- Eu... Eu...
 “Ah, não. Ela deve ter percebido o que eu fiz...”, pensa Jonah.
 
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- Eu consegui! – pula Marie, de felicidade. – Eu consegui, Jonah, eu consegui! – ela o abraça e ele faz-se escarlate.
Mostram-se então as vitórias-régias, com a pedra que Marie lançou sobre elas.
Eles então se desabraçam e ficam se olhando, ambos com as maçãs do rosto avermelhadas.
Ouve-se uma buzina que interrompe o momento.
 
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(15) [corte Jonah]
 
O pai de Marie chega de carro para busca-la.
 - Marie, venha! – grita ele.
 - Ah, é meu pai. Tchau, Jonah! – acena ela e sai correndo em direção ao carro.
Entra no carro, pela parte de trás.
 - Com quem você estava falando, filha?
 - Ah, era meu amigo Jonah.
 - Seu amigo... Jonah...
O pai dela olha para onde ela estava e vê nada.
 - Deve ser um amigo imaginário – pensa ele, fazendo uma expressão de desdém e entrando no carro.
 
(16) [corte Marie]
 
A mãe de Jonah chega de carro para busca-lo.
 - Jonah, ande, venha! – grita ela.
 - Huh, é minha mãe. Já vou indo. Tchau, Marie! – diz com uma expressão de desânimo. Ele acena e sai correndo em direção ao carro.
Entra no carro, pela parte de trás.
 - Com quem estava falando, filho?
 - Ah, era minha amiga Marie.
 - Sua amiga... Marie...
A mãe dele olha para onde ele estava e vê nada.
 - Deve ser uma amiga imaginária – pensa ela, fazendo uma expressão de desdém e entrando no carro.
 
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Os carros vão embora, cada um para seu lado.
Mostra-se o céu de outono.

Fim.